A perfeita trilha sonora do Apocalipse
O Subtera é um dos grupos mais respeitados e admirados no cenário do heavy metal nacional. Formada em 2000, sob as cinzas da extinta banda Core, o Subtera dava seus primeiros passos no cenário underground com um som totalmente cru e agressivo. Recentemente, William (guitarra/voz), Patrick (baixo) e Waldner (bateria) lançaram o álbum Apocalipsed. Este grande trabalho confirma o amadurecimento e a qualidade sonora que conquistaram com o decorrer dos anos.
Nesta entrevista concedida pelo baterista Waldner, ele fala sobre a carreira do grupo, o processo de gravação e a repercussão do novo disco, e explicam porque são considerados a perfeita trilha sonora do Apocalipse.
Primeiramente gostaria de dar os parabéns ao Subtera pelo excelente trabalho desenvolvido ao longo da carreira e logo de cara, gostaria de perguntar como foi o processo de gravação do álbum Apocalypsed?
Muito obrigado pelo elogio! Gravamos cada instrumento separadamente em sistema analógico no estúdio DaTribo. Faz tempo que queríamos fazer a captação e mixagem do Subtera em sistema analógico, para ver como ficaria nossa música produzida com esse tipo de equipamento. Gostamos bastante do resultado final desse álbum, o som ficou orgânico com bastante peso e ao mesmo tempo bem limpo.
Para muitos leigos, a música de vocês pode ser apenas barulho. Por isso, gostaria que vocês explicassem como é o processo de composição de vocês.
As composições vão aparecendo de forma natural, sem muita programação. Às vezes a melodia aparece primeiro, em outras vem uma batida. Juntamos as idéias e as músicas vão criando forma. Nossa preocupação é construir uma atmosfera cheia de intensidade e energia para dar suporte às letras. Às vezes chegam pessoas até nós que não tem o costume de escutar esse tipo de música, mas que ouviram nossos discos ou que assistiram nosso show e dizem que gostaram da banda por causa da vibração da música.
Por que vocês resolveram dar o nome da banda no idioma Esperanto. Qual foi o objetivo ou motivo para isso?
Queríamos um nome que soasse original e que não fosse nem em português nem em inglês. O Esperanto foi a saída que achamos. Esperanto em Esperanto significa esperança. Essa é uma língua neutra de intenção pacífica, que foi criada para unificar os povos do mundo. Atualmente, temos mais de três milhões de pessoas que tem o Esperanto como a sua segunda língua. A palavra Subtera significa subterrâneo nessa língua.
Por que vocês resolveram abrir o seu próprio selo para o lançamento de Apocalipsed? Quais as vantagens e desvantagens? Muitas bandas tem preferido este saída para controlar vendas, divulgação e etc.
Na época que acabamos de produzir o Apocalypsed, estávamos sem gravadora e queríamos lançar o álbum o mais rápido possível. Como já tínhamos esta experiência de lançar um disco de forma independente já que o disco da nossa primeira banda, que se chamava Core, foi lançado e distribuído por nós mesmos, resolvemos fazer isso com o Apocalypsed. É uma experiência válida, pois você acaba por saber como é o trabalho de uma gravadora; distribuição, promoção, controle de saída e entrada de grana. No entanto, a segunda prensagem desse ultimo álbum que vem com dois covers e mais o vídeoclipe da música Acid Rain como bônus, foi feita pela Voice Music, que é a gravadora do Silvio Golfetti, guitarrista do Korzus. Conhecemos bem o trabalho da Voice e gostamos de como eles trabalham seus lançamentos.
Eu particularmente acho o som do Subtera diferente das outras bandas de grind. Quais são as influencias de vocês?
São muitas as bandas e estilos de músicas que gostamos de ouvir, desde Grindcore, Punk old school, Heavy Metal, Country, Música clássica, Jazz, MPB, entre muitas outras coisas…
Neste novo CD, é perceptível uma “leve” diferença em relação aos outros trabalhos. Por quê ocorreu isso? Pode ser bobagem para uma banda de grind, mas houve um amadurecimento sonoro?
Procuramos ficar livres para podermos experimentar coisas dentro da nossa música sem nos prender a rótulos. Se essa mudança ocorreu, creio que é natural, tocamos juntos já há alguns anos e o entrosamento vai se aprimorando. A cada disco procuramos trabalhar elementos novos em cima do que já construímos com nosso estilo, experimentando diferentes texturas, batidas e sonoridades.
Já que toquei no assunto de composições, vocês devem ter muita inspiração principalmente em relação às letras, não?
Gostamos de comentar e escrever sobre coisas que lemos ou que vivenciamos, não somente coisas que acontecem diretamente a nós, mas sobre coisas que acontecem ou que aconteceram no mundo, que às vezes passam despercebidas, mas que afetam direta ou indiretamente as pessoas do mundo todo. Os lideres mundiais tem o mundo como um playground para dar vazão as suas doideiras e quem sofre as conseqüências de suas inconseqüências é massa que sustenta essa minoria. Mas também não é só coisa ruim, muitas coisas positivas estão acontecendo e hoje é possível sentir uma atmosfera de consciência crescendo no mundo. Acredito muito que essa energia jogada no ar neutraliza muita coisa esquisita que esses “chefes de estados e seus capachos” praticam.
Há algum tempo vocês mudaram de Londrina para morar em São Paulo. Neste momento, qual é o resultado desta mudança? Explique por que vocês optaram por isso? Muitas bandas já se mudaram para São Paulo e acabaram voltando para casa sem nada… Como vocês avaliam esta mudança?
Já há algum tempo tínhamos a intensão de vir pra São Paulo, a idéia foi amadurecendo até chegar a hora. São Paulo é uma cidade bacana e oferece uma melhor estrutura para trabalhar com a banda. Como experiência de vida também é muito interessante. Mudar de cidade, sair do lugar onde você cresceu e onde se conhece todo mundo e vir para um grande centro selvagem como São Paulo.
Como é ser uma banda de grind em um país como Brasil? Em uma entrevista, o vocalista do Krisiun, Alex Camargo, exaltou a força e a coragem que o Subtera tem ao longo da carreira. Como vocês avaliam isso?
Nascemos no Brasil e gostamos de tocar a música que tocamos. Como falei antes não nos prendemos a estilos, fazemos música porque gostamos e porque acreditamos nela. Infelizmente, o Brasil não oferece um suporte decente para esse estilo de música, mas se olharmos para muitas outras vertentes da arte e esporte no Brasil, vemos que também falta estrutura para essas modalidades. Existem muitos artistas e esportistas que vivem no Brasil que realmente amam e acreditam no que fazem, mas que também não tem o devido suporte do governo e da mídia. Acredito que se os políticos que dizem defender o interesse do povo dessem uma maneirada na sua arte de roubar todo o país, não somente a classe artística ou esportista, mas todo o povo brasileiro seria beneficiado com isso, sobrando mais dinheiro pra essa gente investir em comida, educação cultura e lazer.
Apesar da diferença de estilo musical, muitas pessoas ficam impressionadas com a brutalidade sonora do Subtera. Como vocês analisam esta questão já que vocês são apenas em três integrantes.
Somos três e temos que dar conta do recado em três (risos). Como falei antes, nos preocupamos em criar uma atmosfera de energia com a nossa música. Nos shows do Subtera temos que transmitir essa energia e muitas pessoas se contagiam com essa vibração criando uma onda positiva de interação entre público e banda.
Na minha opinião, o Subtera é a trilha sonora do Apocalipse. Vocês concordam comigo? (risos)
Sim. O nome do último álbum foi dado com essa idéia. Fazer a trilha sonora para um mundo “Apocalipsado”, um mundo que está perdendo o respeito e o amor. O livro foi escrito há muito tempo, mas parece que o homem não entendeu o que está escrito nele. Quem gera o Apocalipse é o próprio homem através de suas ações. Precisamos aprender a respeitar o que nos foi dado como presente. A Terra está sendo mau tratada e isso só gera coisa ruim pra nós mesmos. Quando tomarmos consciência de que a Terra é um ser vivo e que esse ser é o nosso próprio corpo, muita coisa mudará. Mas acredito que o homem está sofrendo um processo de mudança e aprendizagem, e daqui um tempo estaremos vivendo em sintonia com as Leis que nos criaram.
Outro fator interessante em relação ao Subtera é o impressionante nível de amizade que vocês mantém com as outras bandas. Tiro essa conclusão, porque já vi em diversas fotos de bandas até de diferentes estilos referente ao Subtera, usando a camiseta da banda. Acredito que isso é uma importante marca para vocês, não?
Acredito que esse intercâmbio é fundamental pra o crescimento e fortalecimento da cena musical. Aonde vamos fazemos amigos. Gostamos de trocar idéias com todo mundo sem radicalismo. Respeitamos quem nos respeita e assim tudo vai certo.
Além desta amizade com músicos, de que forma a Internet tem ajudado na divulgação do Subtera?
A Internet é um grande veiculo de divulgação. Tudo acontece de forma mais rápida através dela e ficou mais fácil de trabalhar. Pra quem é da época das cartas sabe que as coisas se agilizaram muito com a entrada da Internet.
Quais são os próximos projetos do Subtera?
Continuar tocando e se preparar para gravar o próximo álbum.
Web site da banda: http://www.subtera.com.br
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